quinta-feira, 15 de março de 2012


Os ciclos da economia

 Há uns anos fui convidado a assistir a um “workshop” cujo orador era Secretário de Estado da economia de um Governo Socialista. Entre outras coisas recordo uma passagem do seu discurso onde ele afirmava que a economia é composta por dois ciclos. Ciclo positivo- que eu interpretei como tempo das vacas gordas- outro negativo- tempo das vacas magras- e que esses mesmos ciclos tinham um tempo de duração mais ou menos longo, 4, 6 ou 8 anos. Não fiquei, na altura, totalmente convencido porque dado a dependência de vários factores e dos gigantescos interesses em jogo achei que esses ciclos eram de difícil previsão. Hoje fazendo uma retrospectiva das condições de vida em Portugal, depois do 25 Abril,  com uma alternância de poder entre dois partidos com tendência centro esquerda (PS) e centro direita PSD/CDS, compreendi, finalmente as afirmações do então Secretário de Estado. Assim, quando sobem ao poder, os governos de esquerda têm tendência a alargar um pouco os cordões à bolsa melhorando ligeiramente as condições de vida da população porém, como os fluxos de capitais são como uma ampulheta  que ao encher-se de um lado esvazia-se do outro, vem os governos de direita e logo tentam repor-lhe o equilíbrio para que o poder económico volte a recompor-se como acontece agora com o actual governo PSD/CDS. De resto já todos compreendemos que isto será sempre assim com qualquer partido que assuma o poder. A manipulação, do poder económico sobre as massas já não é de agora, teve, tem e terá um controlo absoluto na sociedade. Lembro uma frase da filósofa russo-americana, Ayn Rand chegada aos E.U.A que, já na década de 1920, proferiu uma frase que espelha bem o que está a acontecer: “ Quando você perceber que, para produzir, precisa obter autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui não com bens, mas com favores; quando perceberem que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e as leis não nos protegem deles, mas,  pelo contrário são eles que estão protegidos de vocês; quando perceberem que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poder-se-á afirmar, sem temor de errar, que a sociedade está condenada”. No capitalismo não existe dó nem piedade mesmo que haja fome, miséria, convulsões sociais ou mortes o poder económico avançará incólume sobre os escombros sociais a não ser que aconteça como na Islândia onde a população varreu com os políticos e com os grandes capitalistas e depois de ter mergulhado  no caos a sua economia volta a crescer, pelo menos, até que o “monstro” capitalista, à espreita da  1ª oportunidade, volte a controla-los. O mundo está a mudar rapidamente porque deram muito valor ao dinheiro. Uma vez que a ganância é cada vez maior acredito que os ciclos negativos da economia estão para durar a não ser que o verdadeiro poder das massas se organize e consiga inverte-los. O preço a pagar por tal inversão é que será totalmente imprevisível.
Juvenal Rodrigues.

Publicado no Diário Notícias Fx em 14.03.12