terça-feira, 26 de agosto de 2014

TERRAMOTOS FINANCEIROS


     

                                    Juvenal Rodrigues 
                                    Deputado Municipal na CMF

Terramotos financeiros

Este triste Mundo em que vivemos, está a tornar-se uma pirâmide construida sobre a ganância, a corrupção e a promiscuidade onde uns galgam as costas dos outros a ver quem chega mais depressa ao topo. Nem tiveram ainda tempo para perceber que o topo é apenas uma miragem que está a provocar estrondosas quedas. A ganância ofuscou-lhes os sentidos já que nem sentem os grandes terramotos financeiros, que estão a empurrar o Mundo para a rotura total. Só aí, eles e as gerações vindouras aperceber-se-ão da intoxicação com que estes insanos sem escrúpulos e mentirosos compulsivos estão a poluir o Mundo.
Meditem nos casos BPN, BCP, BES e outros e terão a ilustração completa da ambição desmedida. Têm o que merecem, diria, pela sua ambição desmedida. O pior são as sequelas deixadas nos países e nas populações por estes irracionais.
Mas, paradoxo dos paradoxos, a estupidez de poucos está a arrastar muitos para a ruína incluindo cidadãos inocentes que pouparam durante uma vida. O que fazer? Guardar o dinheiro debaixo do travesseiro sujeito a roubos ou incêndios ou guarda-lo no Banco e viver aterrorizados sem saberem qual o dia que acordam e, mesmo com uma poupança no banco, não terão dinheiro para comer?
Uma frase celebre de Wiliam Ernest Hocking descreve o momento que o Mundo atravessa; “as únicas desgraças completas são aquelas com as quais nada aprendemos.
Não digam que sou pessimista ou que tenho filosofia comunista por denunciar um capitalismo ultra livre porque a realidade incontestável está ai aos olhos de todos. O próprio Governador do BdP afirmou, um dia destes perante o país que o nosso sistema financeiro esteve à beira do colapso. E agora a grande interrogação! Uma vez que nada se aprende com os erros quantas vezes mais estaremos, no futuro, na mesma situação? O grau de promiscuidade entre governantes e o poder económico é de tal ordem que até com a queda de um Banco os especuladores desonestos ganham 52 milhões.
Alguém tem uma explicação plausível para a degradação do tecido empresarial sobretudo no nosso país? Até aos anos 80 ainda se abriam negócios que duravam uma vida e onde patrões e funcionários podiam contar com um emprego estável e planear o seu futuro familiar. Hoje abre-se negócios sem um estudo de sustentabilidade ou viabilidade económica sendo condição sine qua non ter uma ideia e um Banco que empreste dinheiro mesmo que o negócio nem renda o suficiente para pagar os juros do capital investido. O resto seja o que Deus quiser!
Na verdade a atual economia de mercado sem regras e sem limites apenas gera dinheiro para poucos e dívidas para muitos acabando com postos de trabalho e lançando populações na miséria. O sistema financeiro está estudado e planeado para os grandes agiotas ganharem fortunas em juros pagos pelos pequenos países e pelos pelos médios e pequeno empresários que foram a sustentabilidade do tecido empresarial e a garantia de muitos postos de trabalho. O Papa Francisco chama a atenção quando descreve esta nova escravatura moderna como uma praga social. Até 2020 virá da U.E. Para Portugal mais 26 mil milhões fora o que já entrou até aqui, alguém faz uma ideia o que foi, e será, feito de tanto dinheiro e quem o pagará?
O mercado sem regras foi uma aventura iniciada nas terras do Tio Sam que até aqui tem resultado mas terá os dias contados visto que os americanos têm apenas cifrões no lugar dos neurónios o que não lhes permite raciocinar ante os milhões. Obviamente que esta roda da fortuna não assenta em bases sólidas e começa-se a assistir a grandes quedas de grandes multinacionais que arrastam tudo o que gira em à sua volta.
O Mundo de hoje entrou numa espécie de funil onde cabem todos à entrada mas apenas passam alguns pela saída. A grande maioria morrem no meio espezinhados uma vez nem podem sair nem podem voltar atrás e assim restarão os muito ricos e os muito pobres.
Acredito que estamos a chegar ao fim de um ciclo democrático apregoado de uma grande conquista, tal como chegamos ao fim do ciclo das Dinastias, do ciclo Comunista e do ciclo Ditatorial porque a estupidez humana não tem limite e acaba por destruir tudo o que tem em mãos deixando em seu lugar apenas o caos.

PUBLICADO NA COLUNA "OPINIÃO" DO D.NOTÍCIAS MADEIRA EM 26.08.2014