Os ciclos da economia
Há uns anos fui convidado a assistir a um “workshop” cujo
orador era Secretário de Estado da economia de um Governo Socialista. Entre
outras coisas recordo uma passagem do seu discurso onde ele afirmava que a
economia é composta por dois ciclos. Ciclo positivo- que eu interpretei como
tempo das vacas gordas- outro negativo- tempo das vacas magras- e que esses
mesmos ciclos tinham um tempo de duração mais ou menos longo, 4, 6 ou 8 anos.
Não fiquei, na altura, totalmente convencido porque dado a dependência de
vários factores e dos gigantescos interesses em jogo achei que esses ciclos
eram de difícil previsão. Hoje fazendo uma retrospectiva das condições de vida
em Portugal, depois do 25 Abril, com
uma alternância de poder entre dois partidos com tendência centro esquerda (PS)
e centro direita PSD/CDS, compreendi, finalmente as afirmações do então
Secretário de Estado. Assim, quando sobem ao poder, os governos de esquerda têm
tendência a alargar um pouco os cordões à bolsa melhorando ligeiramente as
condições de vida da população porém, como os fluxos de capitais são como uma
ampulheta que ao encher-se de um lado
esvazia-se do outro, vem os governos de direita e logo tentam repor-lhe o
equilíbrio para que o poder económico volte a recompor-se como acontece agora
com o actual governo PSD/CDS. De resto já todos compreendemos que isto será
sempre assim com qualquer partido que assuma o poder. A manipulação, do poder
económico sobre as massas já não é de agora, teve, tem e terá um controlo absoluto
na sociedade. Lembro uma frase da filósofa russo-americana, Ayn Rand chegada
aos E.U.A que, já na década de 1920, proferiu uma frase que espelha bem o que
está a acontecer: “ Quando você perceber que, para produzir, precisa obter
autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui não
com bens, mas com favores; quando perceberem que muitos ficam ricos pelo
suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e as leis não nos protegem
deles, mas, pelo contrário são eles que
estão protegidos de vocês; quando perceberem que a corrupção é recompensada, e
a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poder-se-á afirmar, sem
temor de errar, que a sociedade está condenada”. No capitalismo não existe dó
nem piedade mesmo que haja fome, miséria, convulsões sociais ou mortes o poder
económico avançará incólume sobre os escombros sociais a não ser que aconteça
como na Islândia onde a população varreu com os políticos e com os grandes
capitalistas e depois de ter mergulhado
no caos a sua economia volta a crescer, pelo menos, até que o “monstro”
capitalista, à espreita da 1ª
oportunidade, volte a controla-los. O mundo está a mudar rapidamente porque
deram muito valor ao dinheiro. Uma vez que a ganância é cada vez maior acredito
que os ciclos negativos da economia estão para durar a não ser que o verdadeiro
poder das massas se organize e consiga inverte-los. O preço a pagar por tal
inversão é que será totalmente imprevisível.
Juvenal Rodrigues.
Publicado no Diário Notícias Fx em 14.03.12
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