A grande peta
Os madeirenses foram confrontados no 1º de abril com uma carga de impostos tão violenta que
mais parecia uma peta. Antes fosse! Mas infelizmente foi uma realidade nua e
crua que os governantes, lá do alto do
seu imensurável saber, nos pregaram. A grande peta começou há 30 anos quando se
instalou na região um regime totalitário, autista e arrogante. A grande peta
começou quando utopicamente pensamos que com 250.000 habitantes seríamos
maiores que o continente português com 10 milhões. Quando deveríamos manter a
paz social e profícua usamos uma tática
arruaceira de virar madeirenses contra
madeirenses e ainda usa-los como arma de arremesso contra a República porque
dava votos. Quando começamos a desperdiçar uma tão desejada autonomia porque não
soubemos usa-la. Quando, com uma “cagança” saloia escarnecemos dos Açores
afirmando que eram uns atrasados e nós é que éramos o povo superior. Quando
tivemos a ousadia de dizer, para iludir a população que a Madeira seria a
Singapura do Atlântico. Quando dizíamos à boca cheia que poderíamos ser
independentes constatando agora que jamais poderemos viver sem ajuda devido a
condições, geográficas e económicas, inultrapassáveis. Quando apenas queríamos
saber qual o banco mais próximo disponível para emprestar dinheiro sem pensar
que um dia teríamos que paga-lo. Quando se criou S.D. com o único objetivo de
pedir dinheiro e ultrapassar as leis da República que imponham o endividamento
zero. Quando se construíram complexos desportivos, hoje transformados em pastos
para cabras, e 22 piscinas numa pequena ilha rodeada pelo mar. Quando se faziam
inaugurações com espetada e vinho à “fartazana” porque havia bastante dinheiro
para esbanjar. Quando o Sr. Governo num golpe politiqueiro baixo, ignóbil e
interesseiro pretendeu esconder uma monstruosa dívida para as gerações
vindouras pagarem. Quando uma maioria de deputados do partido maioritário,
porque era cómodo e dava “tacho”, nunca quis fiscalizar o Governo (lembra-me o
adágio popular: “cornos que dão de comer deixa-los crescer” ) como era seu
dever. Algumas pessoas integras e capazes ligadas ao PSD-M, (a quem reconheço
capacidade e de quem tenho prazer de ser amigo) hoje arrependidos, não se
reviam na maneira arrogante e insensata do seu líder mas como estavam bem acomodados
à sombra do regime nunca tiveram coragem para levantar a voz e impedir o descalabro total de uma política
suicida. Hoje, os que votaram e os que não votaram neste regime interrogam-se:
com os bens de primeira necessidade a aumentar a olhos vistos, com mais de
20.000 desempregados, com empresas a abrir falência todos os dias, com 1L de
combustível a custar quase 2€ (400 escudos na moeda antiga) com dívidas a curto
e longo prazo, como irá a Madeira sair desta situação? Pois é caros leitores, a
grande peta começou quando o Governo da RAM “e associados” começou a encher um
grande balão de oxigénio que agora rebentou
deixando um grande buraco pronto a nos engolir a todos.
Juvenal Rodrigues
Publicado no Diário Notícias Funchal em 10.04.12
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