segunda-feira, 21 de novembro de 2016

45º A INCÓGNITA

45.º: A Incógnita

As próximas gerações confrontar-se-ão com uma nova “Torre de Babel”

21 NOV 2016 / 02:00 H.
Passou pouco mais de uma semana mas os leitores já deverão estar fartos de ouvir falar nas eleições americanas e no seu polémico vencedor. Não voltaria ao assunto se estas eleições acontecessem noutro qualquer país mas estamos a falar dos E.U.A a maior potência bélica do Mundo onde de um momento para o outro tudo pode acontecer. Muitos lembrar-se-ão da década de 80, quando em plena guerra fria, o Mundo esteve por momentos à beira do colapso, tivesse Ronald Reagan dado ordem para carregar no “botão nuclear. Esse imensurável poder encontra-se agora nas mãos de Donald Trump, do qual ouvimos terríveis ameaças à estabilidade, não só dos EUA como de todo o Mundo.
Quero crer que parte das ameaças proferidas, na campanha eleitoral, mais ordinária dos E.U.A, só aconteceram porque nem o próprio Trump, acreditava que ira ganhar as eleições e fez como aqueles partidos que prometem muito porque sabem que nunca chegarão ao poder mas... “não vá o diabo tecê-las. Trump ganhou porque o partido democrata apresentou Hillary Clinton com uma imagem já desgastada politicamente enquanto ex-primeira dama e mais tarde Secretária de Estado. Assim os americanos preferiram romper com a oligarquia das famílias poderosas, Bush, Reagan e Clinton para apostarem num político quase desconhecido para castigar o partido democrata por não ter apresentado um candidato/a mais credível. Se algum mérito teve Donald Trump foi o de despertar a arrogância dos americanos, dez anos adormecida pela humildade de Barack Obama mas também dividiu o país. Pela sua aparente intolerância e agressividade, embutida nas expressões faciais e gestuais, este homem jamais conseguirá agradar a todos como facilmente se depreende das reacções de jornais como o “Liberation” o “Courrier International”, o “The Times” o “El Mundo” , o “The New York Times” e outros onde a preocupação e a dúvida estão patente desde o comum cidadão às altas esferas do poder. Não só o povo americano como o resto do Mundo têm efetivamente razões para preocupação. Resta-nos esperar pelas réplicas que esta onda de choque provocou a nível mundial.
Sabendo que todo o percurso de vida deste multimilionário teve como única preocupação engordar a conta bancária, várias e legítimas interrogações se colocam; qual será a sua sensibilidade perante o Estado Social? respeitará os acordos sobre o clima? expulsará os emigrantes? erguerá o muro na fronteira com o México? rasgará o dossier Guantánamo? manterá as relações estáveis com Cuba, Médio Oriente e Rússia? ou optará pelas medidas drásticas que prometeu desenvolver caso vencesse as eleições? Prevejo uma espinhosa missão para António Guterres, enquanto Secretário Geral da ONU, para mediar futuros conflitos entre as super potências mas também não descarto a hipótese de acontecer a Trump um desfecho idêntico a John F. Kennedy.
Esta inesperada vitória serviu ainda para tirar duas importantes ilações sobre o sistema democrático de um país que se intitula paladino da democracia e de modo geral para todo o Mundo que adota a democracia: por um lado as tão usadas sondagens já não são um barómetro fiável uma vez que davam 5 pontos percentuais de vantagem a Hillary e Trump acaba por ganhar com uma maioria confortável. Por outro lado demonstrar-nos que as populações já nem querem respeitar o sistema menos mau de todos os sistemas, a democracia. Esta realidade ficou patente nas manifestações e pedidos de anulação destas eleições, pelo povo americano e pelo que aconteceu na Inglaterra, com o Brexit, onde o povo se recusa a aceitar o resultado do referendo com vista à saída da U.E. Junte-se a tudo isto a elevada abstenção nas urnas, presidentes eleitos e depois destituídos, pelos tribunais, por corrupção, ou gestão danosa e temos aquilo que por várias vezes manifestei nesta pagina do Diário, uma gritante descrença na democracia. As próximas gerações confrontar-se-ão com uma nova “Torre de Babel” onde ninguém se entende?



Juvenal Rodrigues

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