quarta-feira, 17 de agosto de 2016

JÁ VI O INFERNO



Já vi o inferno!

 
Juvenal Rodrigues, Deputado municipal
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Afirmo sem pejo que um crime deste calibre deveria ser julgado ao abrigo da lei do terrorismo
Um cheiro intenso a cinza ainda paira no ar irrespirável pela densa camada de fumo que nos entra pelas janelas e portas irritando-nos a garganta e secando-nos as narinas. O cenário de devastação fere-nos a vista e aperta-nos o coração. Quatro dias após o inferno descer à cidade, é esta a sensação que nos invade ao dar uma volta pelo centro e arredores da linda e cosmopolita cidade do Funchal. Estou a escrever este artigo e ao longe, esporadicamente, ouço uma sirene e o cenário dantesco do Funchal, literalmente a arder, passa repetidamente diante dos meus olhos. Imagino horrorizado , que se não houvesse aquela dádiva dos céus de amainar o vento penso que hoje não restaria nada da nossa cidade.
Um terrível sentimento de angústia invadiu-me o espírito ao ver o avanço das terríveis labaredas e grossas colunas de fumo sobre uma cidade quase indefesa e alguns cidadãos, com uma simples mangueira nas mãos, tentando travar esse avanço. Enquanto por cá andar peço a Deus que não me repita cenário igual. Penso que já vi o inferno! É verdade que posso considerar-me privilegiado porque nada me aconteceu, estou apenas a ver esta tragédia pelos olhos daqueles conterrâneos que sentiram as labaredas a lamber as paredes das suas casas, outros que perderam tudo o que tinham e até mesmo aqueles que perderam a vida. A todos esses e aos familiares o meu sentimento de profunda solidariedade. Agora espero que o poder, quer regional, nacional ou mesmo europeu não se ponham a engonhar e demorem uma eternidade a resolver casos de pessoas que ficaram apenas com a roupa que tinham no corpo. Não façam como de costume que agora é só abraços, palavras solidárias e promessas mas depois cai tudo no esquecimento e nos procedimentos administrativos ate levar as pessoas ao desespero. Quem provar que perdeu a sua habitação tem que ser imediatamente realojado em condições dignas e depois trata-se da burocracia.
Vi a cara do canalha que deu origem a esta catástrofe e um sentimento de revolta invadiu-me por saber que neste Mundo ainda existe gente capaz de provocar tamanha tragédia. Será que este energúmeno não sentirá remorso para o resto da vida? Um individuo que é capaz de ato tão abominável, apesar da tolerância que nos é imposta por uma vivência democrática, não devia conviver em sociedade. O lugar dele deveria ser atrás das grades mas mesmo assim ainda terá um teto, alimentação e roupa enquanto as vítimas ficaram sem teto, sem alimentação e sem roupa. Afirmo sem pejo que um crime deste calibre deveria ser julgado ao abrigo da lei do terrorismo, afinal estamos a falar do mesmo crime hediondo que ceifa vidas humanas e destrói o património privado e o público que é de todos nós. A incúria ou a loucura não podem servir de atenuante para quem provoca tanto sofrimento.
Infelizmente, um país depauperado como o nosso devido a erros do passado, sem ajuda da UE, dificilmente terá 55 milhões (cálculo dos prejuízos) para financiar tamanha catástrofe mas fica registada a solidariedade entre os órgãos de poder que despiram a camisola partidária em prol de uma população triste e desolada. A visita do Pres. da República e do 1º Ministro à região e a coordenação entre o Governo Regional e a CMF demonstraram que ao contrário de outros tempos em que a estupidez dos políticos prevalecia, é possível abandonar as ideologias e os arrufos partidários colocando em primeiro lugar a região e a sua população. Espero que aprendam a lição! Uma especial referência ao Pres. da CMF pela sua tenacidade para amenizar a tragédia, aparecendo em todo o lado e tentando, com a sua presença, estimular aqueles que começavam a perder a força anímica.
O G. Regional diz agora que vai retomar o estudo dos meios aéreos para combater fogos na Madeira o qual nunca deveria ser interrompido, acredito que seria um meio eficaz de combater incêndios em lugares inacessíveis por meios motorizados ou pedestres.
Uma palavra de apreço aos nossos bombeiros e forças de segurança assim como aos soldados da paz que vieram do Continente e dos Açores que, com a sua ajuda, evitaram males maiores para a nossa ilha sem esquecer o Continente português que continua a debater-se com idêntica tragédia.

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