Viver ou vegetar?
28 FEV 2020 / 02:00 H.
O ano de 2020 começa pródigo em acontecimentos mediáticos que seria impossível não aborda-los em qualquer artigo de opinião. Tentarei arranjar espaço, para dois temas sobejamente badalados.
A eutanásia
Comecemos por aqui, já que acaba de ser aprovada, na generalidade, na Assembleia da República. Podemos aquilatar da complexidade deste tema já que os deputados foram desobrigados da disciplina de voto e vimos que no espectro político, desde a extrema esquerda à extrema direita, nada foi consensual num assunto que mexe com moralidade, religiosidade, consciências ou opiniões.
Alguém disse: “Não há nada mais democrático do que a morte”. Pois, todos são contemplados.
Neste caso também não concordo com um referendo popular na medida em que, num assunto tão delicado, não aceito que seja 51% a decidir sobre os outros 49%, pois a sociedade está profundamente dividida sobre este tema.
Por sua vez a Igreja, conservadora, nem quer ouvir falar na eutanásia porque vai contra a lei de Deus e para eles as leis terrenas são secundárias. Todavia os próprios cristãos estão divididos, uma vez que já muitos sentiram na pele o que é ter um familiar em estado vegetativo.
Os próprios médicos estão divididos, uns porque vai contra a sua formação e código deontológico, outros porque são objetores de consciência e outros, simplesmente, porque têm a sua opinião.
Os cuidados paliativos poderão atenuar o sofrimento de um doente terminal imobilizado mas não atenua os efeitos colaterais dos familiares que ficam prisioneiros dos cuidados com o paciente, muitas vezes, eles próprios, impedidos de terem uma vida normal.
Abordados os problemas morais, passemos aos sociais que trarão, certamente, consequenciais imprevisíveis quando baixar à Comissão dos Assuntos Constitucionais, Liberdades e Garantias.
Como e quando o doente terminal poderá optar pela morte assistida? Quem determinará que este está na posse das suas faculdades mentais para decidir? Se não, qual o familiar que deverá decidir se o ente querido deverá partir? Pois, compreende-se que haja opiniões diversificadas.
Que dirão as seguradoras no caso de haver seguros de saúde ou de morte e quantos casos irão arrastar-se indefinidamente nos tribunal se não for produzida legislação esclarecedora de modo a responder a todos estas vertentes?
Sinceramente admito dúvidas em votar sim ou não mas repudio veementemente aqueles demagogos que falam em matar. Não se trata de tirar a vida ou obrigar alguém a morrer. É um ato livre e espontâneo de um ser humano que já não tem o mínimo de qualidade de vida e sabe que se tornou um peso inútil.
Racismo.
Segundo o dicionário, “racismo é a teoria que defende superioridade de um grupo sobre outro, baseado em conceitos de raça. Mas quem disse que um branco é superior a um preto ou outra raça qualquer? É a própria sociedade que cria o estigma e o preconceito quando admite que a raça branca é superior à negra quando, na verdade somos iguais, apenas diferindo na cor da pele. António Gedeão no seu poema“lágrima de preta” lembra que as lágrimas têm a mesma composição. Acho que não deveriam fazer um caso onde não há caso, porém, se for para definir racismo, tanto seria castigado um branco que chame preto a outro, como incorre no mesmo crime, qualquer negro que chame branco a outro. Os “produtores de leis” na A.R. lembraram-se de criar legislação sobre um assunto tão natural, apenas para justificar o ordenado. Sempre houve e haverá brancos, pretos, amarelos e vermelhos, ponto final parágrafo. Agora, violência verbal ou física é outro coisa. É inaceitável e condenável mas isso, infelizmente, é próprio e usual em pessoas sem educação que ofendem tudo e todos indiscriminadamente.
Acho ridículo o estardalhaço que se fez acerca do jogador de futebol Marega que se sentiu ofendido por lhe dirigirem impropérios. Mas isso não é racismo, é falta de civismo de uns selvagens -pretos ou brancos- que vão para um estádio de futebol apenas para descarregar as frustrações que acumulam durante a semana. Esses, sim, devem ser castigados por ofensas a jogadores, a árbitros ou ao espetador do lado, mas não por racismo.
Deixemo-nos de populismo barato, pois todos sabemos que, sobretudo em recintos desportivos, lei nenhuma acabará com as ofensas verbais e físicas. Fizeram das palavra racismo e/ou xenofobia, assunto para os meios de comunicação social e para dar emprego a dezenas de comentadores desportivos, eles próprios, a se ofenderem verbalmente, quase chegando a vias de facto, ante uma câmara de televisão.
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